A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), responsável pelo memorial em homenagem às mulheres negras, e que foi vandalizado em...
A Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial (IDMJR), responsável pelo memorial em homenagem às mulheres negras, e que foi vandalizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, realizou neste domingo (25) uma ação para marcar a restauração da obra.
O evento aconteceu no Viaduto do Centenário, onde fica o memorial, e contou a presença de algumas homenageadas, como as ativistas pelos direitos humanos, Rose Cipriano, Silvia Mendonça e Fátima Monteiro.
O muro, construído há pouco mais de um mês, teve o rosto das mulheres homenageadas pintado com tinta branca no último domingo (18).
Entidades reconstroem muro de mulheres negras vandalizado em Duque de Caxias, na Baixada Fluminenseddd — Foto: Divulgação
A arte foi reconstruída no sábado (24) com o apoio dos artistas responsáveis, Rodrigo Maisalto e Kléber Black, e foi reinaugurada neste domingo (25) - Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, como forma de homengear a trajetória de luta das mulheres negras do painel e presentes ao evento.
"A reconstrução do memorial é nossa amostra de que iremos resistir quantas vezes formos provocados e sofrermos atos como esses. Ninguém apagará a memória da resistência", afirma Rayssa Pereira, integrante da IDMJR.
O ato foi realizado com apoio do Movimento Negro Unificado (MNU), do UNEGRO e do coletivo Minas da Baixada. Contou ainda com a participação de movimentos de matrizes africanas e terreiros, além grupo de Afoxé Agbara Dudu.
"Este dia marca as lutas de mulheres negras latinas e caribenhas, um legado do protagonismo de corpos pretos que não se deixam abater pelo racismo e patriarcado que estruturam a sociedade capitalista. Nesse dia 25, rememoramos a história da luta de mulheres negras que nos trouxeram até aqui, vivas, fortes e ingovernáveis", afirma a coordenadora executiva da IDMJR, Giselle Florentino.
Durante a atividade, foram recolhidos agasalhos e cobertores. As entidades organizadoras pediram que os participantes usassem máscara e álcool em gel e mantivessem o distanciamento.
Rose Cipriano, uma das homenageadas, e Simone Ferreira do PVNC — Foto: Reprodução/Redes sociais
Homenagens às mulheres negras
O memorial "Nossos Passos Vêm de Longe" foi pintado em homenagem às mulheres negras ativistas dos direitos humanos, com histórias de luta contra o racismo.
Entre as homenageadas estão Maria Conga, mulher escravizada e vinda do Congo, alforriada aos 35 anos, que se tornou símbolo de liberdade durante a escravidão; Mãe Beata de Yemanjá, que morreu aos 86 anos, após uma vida de militância pelos direitos de religiões de matriz africana; e Marielle Franco, vereadora assassinada que tinha em sua pauta política projetos para pessoas negras e moradores de favelas.
Foram homenageadas também mulheres que fazem parte desta luta atualmente. São elas Fátima Monteiro, Dona Leonor, Ana Leone e Nívia Raposo, representantes de lutas pelos direitos humanos na Baixada Fluminense.
Para Nívia Raposo, que realiza ações de assistência social para população local, o ataque ao mural indica que o trabalho do movimento está surtindo efeito.
"Sinceramente, isso me mostra que estou no caminho certo. Mostra que a gente incomoda. E que bom que as pessoas, entre negros e brancos, reagiram junto conosco. É o que nos dá mais força e mostra que a população está entendendo o que nós estamos fazendo e falando, que é o mais importante", afirma a homenageada no memorial.
"E o que a gente cansa de dizer, mas não vai parar de repetir: vidas negras importam. Quando falamos isso, não queremos dizer que outras vidas não importam, mas reafirmamos o que a gente sabe, que a maioria das pessoas que sofre todos os tipos de violações são negras e que temos que lutar para que não seja mais assim", completa.
Rostos de mulheres homenageadas foi pintado com tinta branca. — Foto: Reprodução/TV Globo
Ataque racista
A polícia procura identificar o vândalo que depredou o muro. Uma testemunha afirma ter visto o momento em que ele chegou ao local para cometer o crime.
"O carro chegou, um rapaz branco. Carro bonito, novo. O cara desceu, muito bem vestido, com um balde, com a tinta, um rolo. Para a gente, ele ia fazer um painel do lado de cá. Mas ele não fez. Aí ele pintou. Ele só não conseguiu pintar o restante porque os camelôs daqui, que protegem o nosso lugar, botou ele pra correr", diz a vendedora ambulante Ana Cristina Barreto.
Via G1
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