Pais e mães de santo expulsos de Duque de Caxias temem novos ataques de traficantes e milicianos

Traficantes e milicianos expulsaram cerca de 15 pais e mães de santo de Duque de Caxias,  na Baixada Fluminense. Eles vivem com medo de...

Traficantes e milicianos expulsaram cerca de 15 pais e mães de santo de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Eles vivem com medo de novos ataques.

“Minha mãe saiu, entrou no ilê, na casa de santo, ela e a caseira que toma conta junto com ela. Passado algumas horas mais ou menos, bateram no portão. A caseira foi abrir e eram quatro rapazes informando que ela tinha que sair, que aquilo ali era do demônio e se intitularam bandidos de Cristo. Começaram a forçar ela própria com 85 anos a quebrar e jogar no chão tudo que estava na frente”.

O relato é de um pai de santo que teve a mãe expulsa do próprio terreiro de candomblé ano passado em Duque de Caxias.

“Eles aconselharam a gente tirar a minha mãe de lá. Levar. Então, ela foi embora, tiramos e até hoje nós não conseguimos voltar lá, retornar pra fazer nada”.

A violência dos casos de intolerância na cidade alcança várias comunidades.

“Em maio do ano passado, a minha casa foi cercada por motocicletas e os bandidos dispararam vários tiros para o alto e impediram a minha casa de funcionar. Desde então, a casa está fechada”.

A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa registrou no ano passado 201 ataques e agressões contra terreiros de umbanda e candomblé no estado do Rio. Um aumento de quase 100% em relação ao ano anterior, sendo que a maioria dos casos não é sequer registrada.

A região onde esse tipo de violência mais acontece é na Baixada Fluminense.

Em novembro do ano passado, o Ministério Público Federal deu 60 dias de prazo para que a Prefeitura de Duque de Caxias estabelecesse políticas de reassentamento dos terreiros e assegurasse medidas de proteção para a prática religiosa.

Passados quase oito meses, nada foi feito.

“Se eu não tenho a proteção para praticar a minha fé, eu não terei se denunciar. O prefeito precisa assumir o seu lugar de gestor. Responder ao que o Ministério Público solicitou, mas antes disso atender a sua população que foi violentada. Aí eu falo do povo de candomblé, umbanda e religiões afro brasileira”, diz Sílvia Mendonça, do terreiro de candomblé.

Nesta terça-feira (11), representantes da Prefeitura de Duque de Caxias se reuniram com donos de terreiros. A reunião foi fechada.

Eles cobram aluguel social e todas as exigências feitas pelo Ministério Público Federal.

“A primeira coisa que a gente considera fundamental é que haja busca de responsabilização, que não apenas os episódios, mas essas causas sejam devidamente apuradas e investigadas e que gerem responsabilização. Mas não é só isso. É necessário mudar uma cultura, tanto no poder político, como no poder religioso da região, que tenta discriminar ou inferiorizar as religiões de matrizes africanas”, diz o procurador Júlio Araújo.